sexta-feira, 20 de setembro de 2013

consumo e desigualdade



Casa de boneca - Moacyr Scliar.

O luxuoso automóvel passou pelo local em regular velocidade, mas isso não impediu que a menina, sentada no banco traseiro, avistasse a pequena casa, pintada de azul: uma coisa curiosa que ela nunca tinha visto e que queria ver. Ordenou, pois, ao motorista que parasse. O homem não obedeceu: – Seu pai mandou que eu levasse a senhorita para casa – disse, respeitoso, mas firme – e é isso que eu vou fazer. Ela entrou furiosa na luxuosa mansão e imediatamente foi dizendo aos pais: quero aquela casinha de boneca que vi
lá perto do shopping. O pai tentou dizer a ela que aquilo não era casinha de boneca, que casinha de boneca a gente compra em lojas de
brinquedos e que, ademais, ela já tinha duas casinhas de boneca; mas foi inútil. A menina, mimada como sempre, insistia: queria aquela de boneca e nenhuma outra. O pai, suspirando, tomou o carro e foi até lá. No caminho, comprou uma pequena casa pré-fabricada, desmontável; com uma boa argumentação, conseguiu convencer o morador da casinha, um homem de seus cinquenta anos, a fazer a troca, que aliás seria vantajosa. Voltou para casa, trazendo a casinha azul. Mas aquilo não deixou a menina satisfeita. Ela queria o boneco.
– Que boneco? – Perguntou o pai, surpreso.
– O boneco grande que estava dentro da casinha – replicou ela. – Pensa que não vi? Tinha, sim, um boneco aí dentro. Quero a casinha com o boneco. O pai disse que não era um boneco, que era um homem de verdade.  O que não serviu de argumento: – Então quero o homem. Quero que ele fique morando aqui. O pai ia dizer que aquilo era um absurdo, mas a filha simplesmente não admitia ser contrariada. Atirou-se no chão, chorando e gritando. Chorou e gritou tanto que ele não teve outra alternativa: tomou o carro e voltou para o local. Felizmente o homem ainda estava ali, terminando de montar a pequena casa pré-fabricada. Não foi muito difícil  convencê-lo a fazer a mudança: ganharia um salário para não fazer nada, só ficar à vista da menina quanto essa o quisesse.
A casinha azul foi instalada junto à piscina. O homem passa ali os dias, sentado à porta. De vez em quando varre o jardim e recolhe as folhas que caem na piscina. Não é obrigação dele. Mas precisa fazer alguma coisa, para se convencer de que não virou um simples habitante da casa de boneca.

1 Levando em conta apenas o conteúdo literal da crônica, assinale a alternativa correta.

I – A menina protagonista confundiu uma casa verdadeira com uma casa de bonecas.
II – O pai da menina comprou-lhe uma casa de bonecas juntamente com um boneco falante.
III – O pai da menina satisfez todos os desejos da filha.
IV – O pai da menina desejava proporcionar uma vida mais digna para uma pessoa de baixa renda.

(A) Apenas I está correta.
(B) Apenas I e II estão corretas.
(C) Apenas I e III estão corretas
(D) Apenas III e IV estão corretas.
(E) Apenas II e IV estão corretas.

2 Qual das seguintes alternativas expressa uma das principais temáticas abordadas na crônica de Moacyr Scliar?

(A) A permissividade dos pais na educação dos filhos, contemporaneamente, tem atingido um patamar tão
elevado que muitas crianças têm se tornado violentas.

(B) A infância contemporânea não tem permanecido imune ao consumo, certamente devido ao forte
impacto da publicidade voltada para crianças, nos meios de comunicação.

(C) A falta de limites aos filhos, por parte dos pais, é o principal motivo pelo qual ocorrem as injustiças
sociais.

(D) Em uma sociedade marcada por fortes desigualdades sociais, até mesmo o ser humano pode se tornar
um objeto de consumo.
(E) A única solução para uma sociedade dividida pela disparidade econômica é a solidariedade dos mais
ricos com os mais pobres.
Mundo Monstro

                                                                                                                                  
3. Levando em conta o conteúdo da charge de Adão Iturrusgarai, qual das afirmações abaixo é pertinente?

(A) O principal tema da charge é o individualismo da sociedade contemporânea, na medida em que as
pessoas não prestam mais atenção em seus semelhantes.

(B) A charge critica a disparidade econômica brasileira, na medida em que algumas pessoas são capazes
de comprar produtos caros enquanto outras permanecem em nível de subsistência.

(C) A principal intenção da charge é demonstrar que o mais importante é a essência do ser humano e não
a sua aparência.

(D) A mensagem da charge diz respeito à importância de manter a autoestima no mundo competitivo em
que vivemos, a fim de obtermos sucesso.

(E) A charge ironiza a necessidade de consumir produtos de marca.

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